O cenário político brasileiro, do Planalto Central às planícies do Pantanal, tem sido há décadas palco de uma prática que corrompe os alicerces da democracia representativa: o fisiologismo. Este fenômeno, caracterizado pela troca de favores e apoio político por cargos e verbas, não é exclusividade de Brasília, mas encontra terreno fértil também nas esferas estaduais, como em Mato Grosso.
No âmbito federal, o fisiologismo manifesta-se de forma mais visível na composição ministerial e na distribuição de emendas parlamentares. Governos sucessivos, independentemente de orientação ideológica, cederam a essa prática na busca por governabilidade. O resultado é uma administração pública inchada, ineficiente e, muitas vezes, alheia aos reais interesses da população.
Em Mato Grosso, o panorama não é diferente. A política local é frequentemente marcada por alianças baseadas não em afinidades programáticas, mas em interesses particulares e acordos de bastidores. Secretarias estaduais e cargos em autarquias tornam-se moeda de troca, comprometendo a eficácia da gestão pública e a implementação de políticas de longo prazo.
Um exemplo emblemático no estado foi a criação de novos municípios na década de 1990, muitos dos quais sem viabilidade econômica. Essa prática, motivada mais por interesses eleitorais do que pelo bem-estar da população, resultou em prefeituras dependentes de repasses federais e incapazes de prover serviços básicos aos cidadãos.
O fisiologismo também se manifesta na aprovação de leis e na alocação de recursos. Projetos de interesse público muitas vezes ficam em segundo plano, enquanto iniciativas que beneficiam grupos específicos ganham prioridade. Isso cria um ciclo vicioso onde o mérito e a necessidade social são suplantados por interesses particulares e acordos políticos.
A prática fisiologista não apenas compromete a eficiência da administração pública, mas também mina a confiança da população nas instituições democráticas. Quando a percepção generalizada é de que as decisões políticas são tomadas com base em interesses pessoais ou de grupo, e não no bem comum, o desencanto com a política se intensifica.
Para combater esse mal endêmico, são necessárias medidas estruturais. A reforma política, tantas vezes discutida e postergada, poderia ser um passo importante. Sistemas eleitorais que fortaleçam os partidos e reduzam o personalismo na política poderiam diminuir a margem para negociatas individuais.
Além disso, o fortalecimento dos órgãos de controle e a maior transparência na gestão pública são fundamentais. Iniciativas como o Portal da Transparência e a Lei de Acesso à Informação foram avanços significativos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
A sociedade civil também tem um papel crucial nesse processo. O engajamento cidadão, através de movimentos sociais, associações de bairro e organizações não-governamentais, pode exercer pressão sobre os políticos e exigir uma governança mais ética e eficiente.
O fisiologismo, seja em Brasília ou em Cuiabá, representa um obstáculo significativo para o desenvolvimento do país e para a consolidação de uma democracia verdadeiramente representativa. Superá-lo exigirá não apenas mudanças institucionais, mas também uma transformação cultural na forma como se faz política no Brasil.
O caminho é árduo, mas necessário. Apenas com um esforço conjunto de políticos comprometidos com o interesse público, instituições fortes e uma sociedade civil vigilante será possível construir um sistema político onde o mérito e o bem comum prevaleçam sobre interesses particulares e acordos de gabinete.